terça-feira, 1 de maio de 2018

As obras do Metrô


Com a nova  Estação Oscar Freire, depois de catorze anos de obras da Linha 4 Amarela, fica consolidado o modelo de estação espalhafatosa na superfície.



Estação Oscar Freire


Inaugurada em 2010, a Linha 4 - Amarela do Metrô notabilizou-se pela modernidade de seus trens, plataformas e estações. Por passar sob o Rio Pinheiros e vias densamente ocupadas, a Linha 4 tem estruturas mais profundas, o que explica a grande quantidade de andares e escadas.

A Estação Oscar Freire dispõe de 39 acessos com degraus.
Mas é do lado de fora que as estações da Amarela mais têm chamado a atenção. Em vez das discretas aberturas para o subterrâneo, o governo do estado tem erguido edificações gigantes na superfície.




 Estação Higienópolis - Mackenzie

A Estação Higienopolis - Mackenzie foram apelidadas de " impressora"


A Estação Butantã em operação desde 2011, foi apelidada de "máquina de lavar", graças a seu aço inox e aos vidros temperados na fachada metálica.





Estação Butantã

As estações  Fradique  Coutinho e Paulista  ( na Rua da Consolação) tampouco  contribuem para embelezar a paisagem urbana. "Desnecessárias, essas construções não dialogam com a cidade e destoam da linguagem do Metrô sempre passou, de que suas estruturas fazem parte da paisagem, não o contrário", critica o arquiteto Flávio Marcondes, um dos projetistas da primeira linha da capital, a norte-sul, nos anos 70". "Se querem fazer prédios, por que não ocupá-los com postos de saúde ou do Detran?", questiona o professor Lúcio Gomes Machado. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
O governo do estado argumenta com o discurso da modernidade. "Não podemos erguer estações como as que fazíamos para nossos avós", rebate Alfredo Nery Filho, chefe do departamento de arquitetura do Metrô. "Os prédios no entorno do Butantã e nos demais pontos ficarão compatíveis no futuro", diz.
A defesa do pós-moderno feita pela empesa estadual destoa do que tem acontecido pelo mundo. As estações são pequenas nas áreas externas, com geometrismos em vidro, de Seul a Glasgow. Hong Kong, Madri e Singapura têm apresentado suas estações na superfície com jardins verticais, praças e trabalho de arquitetura renomados.
Independentemente da cara de eletrodoméstico antigo, o motivo para essas estruturas elevadas em São Paulo é financeiro. Cada estação necessita de cerca de 1 000 metros quadrados para áreas técnicas e operacionais.
Em outros  tempos, optava-se por "enterrar " esses espaços junto com as plataformas de embarque. "Mas sai muito mais barato construir para cima do que sob a terra", calcula o arquiteto Ilvio Artioli,gerente de projetada companhia. Com terrenos maiores,as novas estações da Linha 5-Lilás, que ligará o Capão Redondo à Chácara Klabin, na Zona Sul, terão arquitetura diferente. Em vez de ficarem em prédios em cima das estações, as áreas operacionais serão instaladas em áreas anexas.




Estação Fradique Coutinho


Anunciada em 1995, a Linha 4 - Amarela só teve suas obras iniciadas em 2004. A parceria público privada foi assinada em 2007, apesar do recebimento de dois aditivos, o  que totalizaram 40 milhões de reais, o Consórcio Isolux-Corsán-Corviam da Espanha, foi descredenciado pelo governo do estado e deixou pela metade quatro estações. Com idas e vindas, acréscimos e desapropriações, a conta da Amarela chegou a 6,5 bilhões de reais. Em termos de impacto negativo a paisagem paulistana, porém, ela ainda não supera a paralisada construção da Linha 6-Laranja, que ligaria a Brasilândia ao centro, que passa por várias universidades. Imóveis já demolidos e cercados por tapumes, em bairros como Higienópolis, Pacaembú e Perdizes, esperam languidamente uma nova licitação e, talvez, estações bem projetadas.




Publicado na Veja São Paulo, abril de 2018.