domingo, 30 de junho de 2019

Tarsila do Amaral


  




Tarsila do Amaral

Foi uma  pintora, desenhista e  e tradutora  brasileira  e uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do movimento  modernista  no Brasil, ao lado de Anita Malfatti.  Seu quadro  Abaporu de 1928,  inaugura o movimento antropofágico  nas artes plásticas.




Nascida em 1º de setembro de 1886, em  Capivari,  interior de São Paulo, era filha de José Estanislau do Amaral Filho e de Lídia Dias de Aguiar, e neta de José Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em virtude da imensa fortuna acumulada em fazendas do interior paulista.
Seu pai herdou a fortuna e diversas fazendas, onde Tarsila e seus sete irmãos passaram a infância. Desde criança, fazia uso de produtos importados franceses e foi educada conforme o gosto do tempo. Sua primeira mestra, a belga Mlle. Marie van Varemberg d’Egmont, ensinou-lhe a ler, escrever, bordar e falar francês. Sua mãe passava horas ao piano e contando histórias dos romances que lia às crianças. Seu pai recitava versos em francês, retirados dos numerosos volumes de sua biblioteca.
Tarsila era tia do geólogo  Sérgio Estanislau do Amaral.

Tarsila do Amaral estudou em São Paulo, em colégio de freiras do bairro de Santana e no Colégio Sion.  E completou os estudos em Barcelona, na Espanha,  no Colégio Sacré-Coeur.

Primeiro casamento

Ao chegar da Europa, em 1906, casou-se com o médico André Teixeira Pinto. O marido se opôs ao desenvolvimento artístico de Tarsila e exigiu dedicação exclusiva à vida doméstica, levando à separação do casal. A anulação definitiva do casamento foi concretizada anos depois. Com ele teve sua única filha, a menina Dulce, nascida no mesmo ano do casamento. Tarsila se separou logo após o nascimento da filha e voltou a morar com os pais na fazenda, levando Dulce.

Início da carreira



Começou a aprender pintura em 1917, com  Pedro Alexandrino Borges.  Mais tarde, estudou com o alemão  George Fischer Elpons.
 Em 1920, viaja a Paris e frequenta a Academia Julian,  onde desenhava nus e modelos vivos intensamente. Também estudou na  Academia de Émile Renard.
Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia.
 Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco.



                                                                  Oswald de Andrade




                                                                  Mário de Andrade




                                                                      Anita Malfatti


Em janeiro de 1923, na Europa, Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o casal viajou por Portugal e Espanha.
 De volta a Paris,  estudou com os artistas cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu  Pablo Picasso  e tornou-se amiga do pintor  Fernand Léger,  visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano.

Fases Pau-Brasil e Antropofagia



Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço  Blaise Cendrars,  Tarsila iniciou sua fase artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais"(mencionados em poema por  Carlos Drummond de Andrade),  a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana.


Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila pinta o  Abaporu,  cujo nome de origem indígena significa "homem que come carne humana", obra que originou o Movimento Antropofágico,  idealizado pelo seu marido.
A Antropofagia propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira.


Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como a  Crise de 1929,  Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café e Tarsila perde sua fazenda. Ainda nesse mesmo ano, Oswald de Andrade separa-se de Tarsila porque ele se apaixonou e decidiu se casar com a revolucionária  Patrícia Galvão,  conhecida como Pagu. Tarsila sofre demais com a separação e com a perda da fazenda, o que a leva a entregar-se ainda mais a seu trabalho no mundo artístico.
Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da  Pinacoteca do Estado de São Paulo. Organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento da ditadura de  Getúlio Vargas e com a queda de  Júlio Prestes,  perdeu o cargo.

Viagem à URSS e fase social

Em  1932,  Tarsila vendeu alguns quadros de sua coleção particular para poder viajar à  União Soviética  com seu novo marido, o psiquiatra paraibano  Osório César,  que a ajudaria a se adaptar às diferentes formas de pensamento político e social. O casal viajou a  Moscou.  Leningrado, Odessa, Constantinopla, Belgrado e Berlim.  Logo estaria novamente em Paris, onde Tarsila sensibilizou-se com os problemas da classe operária. Sem dinheiro, trabalhou como operária de construção, pintora de paredes e portas. Logo conseguiu o dinheiro necessário para voltar ao Brasil. Com a crise de 1929, ela perdera praticamente todos os seus bens e sua fortuna.
No Brasil, por participar de reuniões políticas de esquerda e pela sua chegada após viagem à  URSS,  Tarsila é considerada suspeita e é presa, acusada de  subversão. Em  1933  a partir do quadro “Operários”, a artista inicia uma fase de temática mais social, da qual são exemplos as telas Operários e Segunda Classe. Em meados dos anos 30, o escritor  Luís Martins,  vinte anos mais jovem que Tarsila, torna-se seu companheiro constante, primeiro de pinturas depois da vida sentimental. Ela se separa de Osório e se casa com Luis, com quem viveu até os anos 50.


A partir da década de 40, Tarsila passa a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expõe nas 1ª e 2ª  Bienal de São Paulo  e ganha uma retrospectiva no  Museu de Arte Moderna de São Paulo  (MAM) em  1960.  É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de  1963 e,  no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de  Veneza. 

Últimas décadas: 1960 e 1970

Em  1965,  separada de Luís e vivendo sozinha, foi submetida a uma  cirurgia de coluna,  já que sentia muitas dores, e um erro médico a deixou paralítica, permanecendo em cadeira de rodas até seus últimos dias.
Em  1966,  Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de  diabetes,  para seu desespero. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação ao  espiritismo.


A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro obtido a uma instituição administrada por  Chico Xavier,  de quem se torna amiga. Ele a visitava, quando de passagem por  São Paulo e  e ambos mantiveram correspondência.
Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em  17 de janeiro de 1973  devido a causas naturais. Foi enterrada no  Cemitério da Consolação  de vestido branco, conforme seu desejo.


Representações na cultura

Tarsila do Amaral já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Esther Goés  no filme  "Eternamente Pagú"  (1987),  Eliane Giardini  nas minisséries  "Um Só Coração"  (2004) e "JK" (2006).
A artista também foi tema da peça teatral Tarsila, escrita entre novembro de 2001 e maio de 2002 por  Maria Adelaide do Amaral.  A peça foi encenada em 2003 e publicada em forma de livro em 2004. A personagem-título foi interpretada pela atriz Esther Góes e a peça também tinha Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti como personagens.
Tarsila do Amaral foi homenageada pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008 atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio.[4]
Em 2008, foi lançado o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral, uma catalogação completa das obras da artista em três volumes, em realização da Base7 Projetos Culturais, com patrocínio da Petrobras, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.