quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Oswald de Andrade









José Oswald de Sousa de Andrade, nome completo de Oswald de Andrade,  (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 - São Paulo, 22 de outubro de 1954) foi um escritor, ensaista e dramaturgo brasileiro.
 Era filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e de Inês Henriqueta Inglês de Sousa de Andrade (irmã do escritor Inglês de Sousa), 
 Formou-se em Direito no  Largo São Francisco  em 1919. Foi um dos promotores da  Semana de Arte Moderna  que ocorreu 1922 em  São Paulo,  tornando-se um dos grandes nomes do  modernismo  literário brasileiro. Ficou conhecido pelo seu temperamento "irreverente e combativo", sendo o mais inovador entre estes. Colaborou na  revista Contemporânea  (1915-1926). De  1926 a 1929  foi casado com  Tarcila do Amaral , de 1930 a 1935  foi marido de  Pagú.


Oswald no Modernismo Brasileiro 

Um dos mais importantes introdutores do  Modernismo no Brasil,  foi o autor dos dois mais importantes manifestos modernistas, o  Manifesto da Poesia Pau-Brasil e o Manifesto  Antropófago,  bem como do primeiro livro de poemas do modernismo brasileiro afastado de toda a eloquência romântica,  Pau-Brasil. 
Muito próximo, no princípio de sua carreira literária, de  Mário de Andrade,  ambos os autores atuaram como "dínamos" na introdução e experimentação do movimento, unidos por uma profunda amizade que durou muito tempo.
Porém, possuindo profundas distinções estéticas em seu trabalho, Oswald de Andrade foi também mais provocador que o seu colega modernista, podendo hoje ser classificado como um polemista. Nesse aspecto não só os seus escritos como as suas aparições públicas serviram para moldar o ambiente modernista da  década de 1920 e 1930. 
Foi um dos interventores na  Semana de Ate Moderna de 1922.  Esse evento teve uma função simbólica importante na identidade cultural brasileira. Por um lado celebrava-se um século da independência política do país colonizador  Portugal,  e por outro consequentemente, havia uma necessidade de se definir o que era a cultura brasileira, o que era se sentir brasileiro, quais os seus modos de expressão próprios. No fundo, procurava-se aquilo que o filósofo alemão  Herder,  no final do século XVIII, já havia definido como "alma nacional" (Volksgeist).
Esta necessidade de definição do espírito de um povo era contrabalançada, e nisso o modernismo brasileiro como um todo vai a par com as vanguardas europeias do princípio do século, por uma abertura cosmopolita ao mundo.
Na sua busca por um caráter nacional (ou falta dele, que Mário de Andrade mostra em  Macunaíma),  Oswald, porém, foi muito além do pensamento  romântico,  diferentemente de outros modernistas. Nos anos vinte, Oswald voltou-se contra as formas cultas e convencionais da  arte.  Fossem elas o romance de idéias, o teatro e a tese,  o  naturalismo, o  realismo, o racionalismo e o parnasianismo  (por exemplo  Olav Bilac),  Interessaram-lhe, sobretudo, as formas de expressão ditas ingênuas,  primitivas,  ou um certo abstracionismo geométrico  latente nestas, a recuperação de elementos locais, aliados ao progresso da  técnica.
Foi com surpresa e satisfação que Oswald de Andrade descobriu, na sua estada em Paris,  na época do  Futurismo e do Cubismo,  que os elementos de culturas até aí consideradas como menores, como a  africana ou a polinésia,  estavam a ser integrados na arte mais avançada. Assim, a arte da Europa  industrial era renovada com uma revisitação a outras culturas e expressões de outros povos. Oswald percebeu que o Brasil e toda a sua multiplicidade cultural, desde as variadas culturas  autóctones  dos índios até a  cultura negra  representavam uma vantagem e que com elas se poderia construir uma identidade e renovar as letras e as artes. A partir daí, volta sua poesia para um certo  primitivismo  e tenta fundir, pôr ao mesmo nível, os elementos da cultura popular e erudita.


Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924)


O  Manifesto da Poesia Pau-Brasil  é do mesmo ano que o  Manifesto Surrealista de André Breton , o que reforça a tese de que o Brasil estava a acompanhar plenamente o movimento das vanguardas mundiais. Tinha deixado definitivamente de ser uma forma de expressão pós-portuguesa para se afirmar plena e autonomamente. Neste manifesto Oswald defende uma poesia que seja ingênua, mas ingênua no sentido de não contaminada por formas preestabelecidas de pensar e fazer arte. “Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem pesquisa etimológica. Sem  ontologia". 
O manifesto desenvolve-se num tom de paródia e de festa, de prosa poética  pautada com frases aforísticas. Nele se expressa que o Brasil passe a ser uma cultura de  exportação,  à semelhança do que foi o produto  pau-brasil,  que a sua poesia seja um produto cultural que já não deve nada à cultura europeia e que antes pelo contrário pode vir a influenciar esta. Oswald defende uma  poética  espontânea e original, as formas de arte estão dominadas pelo espírito da imitação, o  natunarislismo  era uma cópia balofa. "Só não se inventou a máquina de fazer versos — já havia o poeta parnasiano". Afirma assim uma poesia que tem que ser revolucionária. "A poesia existe nos fatos". “O trabalho contra o detalhe naturalista — pela síntese, contra a morbidez romântica. — pelo equilíbrio geômetra, e pelo acabamento técnico, contra a cópia, pela invenção e pela surpresa”.
Talvez não seja muito errado afirmar que este manifesto poderia ser considerado como um  futurismo  tropicalista. “Temos a base dupla e presente — a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a  geometria, a álgebra e a química  logo depois da mamadeira e do chá de erva doce...”
O manifesto propõe, sem perder o humor e a ingenuidade, a descolonização de seu país pelas vias de um levante popular, e acima de tudo negro, quando expõe uma sugestão de  Blaise Cendrars  : "– Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino".

Manifesto Antropófago (1928)


O  Manifesto Antropófago  foi publicado no primeiro exemplar da  Revista de Antropofagia.  Os exemplares desta publicação eram numerados como primeira dentiçãosegunda dentição, etc.
Este  manifesto  constitui-se numa síntese de alguns pensamentos do autor sobre o Modernismo Brasileiro. Inspirou-se explicitamente em  Marx, Freud, André Breto, Montaignes e Rousseau  e atacava explicitamente a missionação, a herança portuguesa e o padre  Antônio Vieira : "Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade; Contra  Goethe  [que simboliza a cultura clássica europeia]". Neste sentido, assina o manifesto como tendo sido escrito em  Piratininga  (nome indígena para a  planície  de onde viria a surgir a cidade de  São Paulo),  datando-o esclarecedoramente como "ano 374, da Deglutição do  Bispo Sardinha ", o que denota uma recusa radical, simbólica e  humoristicamente, do calendário gregoriano  vigente.
Por outro lado, a técnica de escrita explorada no Manifesto, bem como em todos os poemas mais significativos do autor antes e após este, aproximam-se mais das chamadas  vanguardas  positivas, mais construtivas que o Surrealismo de Breton e continuam propondo uma língua nacional diferente do português. O desejo de criar uma língua brasileira se manifestaria em sua obra, principalmente, por um vocabulário popular, explorando certos "desvios" do falante brasileiro (como sordado, mio, mió), intentando o "erro criativo". Este sonho somente se pareceria concretizar posteriormente, no entanto, na prosa de  Guimarães Rosa  e na poesia de  Manoel de Barros.
Há várias ideias que estão implícitas neste manifesto, em que Oswald se expressa de maneira poética. Essas não são exploradas sistematicamente. Uma destas ideias é o manifesto antropofágico,  antropofagia  que é diferente de  canibalismo,  pois nas sociedades tribais/tradicionais antropofágicas, o nativo comia da carne do nativo de outra tribo acreditando estar assimilando o que este tinha de bom. Geralmente o guerreiro se alimentava de outro guerreiro forte, nunca de um guerreiro fraco, pois senão as suas características ruins seriam assimiladas. O canibal por sua vez se alimenta do outro ser humano por  nutrição.  A literatura brasileira sempre teve essa crise de identidade, assim como muitas literaturas de países que já foram colonizados, pois não se sentem pertencentes aos nativos nem aos colonizadores. Oswald, então, resolve esta questão, com a explicação que devemos ser antropofágicos com a cultura europeia, pois devemos comê-la e digerir tudo aquilo que ela tem de bom, devolvendo isso na forma de uma produção superior, com muito senso de humor e crítica: "Perguntei a um homem o que era o  Direito.  Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Matias. Comi-o."
Outra ideia avançada é a de que a maior revolução de todas vai se realizar no Brasil: "Queremos a revolução Caraíba".
Outra ideia é a de que o Brasil, simbolizado pelo índio, absorve o estrangeiro, o elemento estranho a si, e torna-o carne da sua carne, canibaliza-o. Oswald, metaforicamente, recusa as "religiões do meridiano" que são aquelas de origem oriental e  semita  que deram origem ao  cristianismo.  Sendo a favor das religiões indígenas, com a sua relação direta com as forças cósmicas.
O manifesto insiste muito nas ideias de  Totem e Tabu,  expressas em um trabalho de  FReude de 1912.  Segundo Freud o Pai da tribo teria sido morto e comido pelos filhos e posteriormente divinizado. Tornado Totem e por isso mesmo sagrado, consequentemente criaram-se interdições à sua volta.
Citando o manifesto: "Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem." A antropofagia segundo Oswald é uma inversão do mito do bom selvagem de  Rousseau,  que era puro, inocente, edênico.  O índio passa a ser mau e esperto, porque canibaliza o estrangeiro, digere-o, torna-o parte da sua carne. Assim o Brasil seria um país canibal. O que é um ponto de vista interessante porque subverte a relação colonizador (ativo)/colonizado (passivo). O colonizado digere o colonizador. Ou seja, não é a cultura ocidental, portuguesa, europeia, branca, que ocupa o Brasil, mas é o índio que digere tudo o que lhe chega. E ao digerir e absorver as qualidades dos estrangeiros fica melhor, mais forte e torna-se brasileiro.
Assim o Manifesto Antropófago, embora seja nacionalista não é xenófobo, antes pelo contrário é xecanofágico: "Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago." Por isso, o antropófago Oswald seria um vanguardista, e teria sido o primeiro brasileiro, cronologicamente, a influenciar o movimento literário brasileiro de maior repercussão internacional, o concretismo, bem como, talvez indiretamente, ao poeta brasileiro mais aclamado nos círculos literários da atualidade, Manoel de Barros, o qual se diz um poeta da "vanguarda primitiva".


Falecimento

Túmulo onde foi sepultado Oswald de Andrade, no cemitério da Consolação.
Faleceu aos 64 anos e foi sepultado no túmulo da família, no  Cemitério da Cnsolação,  junto aos seus pais e avô.


sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Mario de Andrade

                                             
                                                            MÁRIO DE ANDRADE

Pintura de Tarsila do Amaral















Casa Mário de Andrade é um imóvel na cidade de  São Paulo  tombado pelo  CONDEPHAAT  (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e CONPRESP  (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Cultural da cidade de São Paulo), onde viveu um dos principais escritores e intelectuais do  Modernismo  e da Semana da Arte Moderna no Brasil, em 1922, Mário de Andrade  (1893-1945).
O imóvel situado na rua  Lopes Chaves, 546 na Barra Funda e projetado  por Oscar Americano  no início da  década de 1920,  é um sobrado geminado em  estilo eclético, em alvenaria de tijolos.

Mario de Andrade viveu na casa de  1921 a 1945,  quando faleceu. Costumava receber no sobrado, às terças-feiras,  Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menoti del Pichchia,  formando o  Grupo dos Cinco   (intelectuais que defendiam os ideais da Semana de Arte Moderna).]






Atualmente, pertence à Secretaria de Estado da Cultura e, desde  1990,  funciona como a Oficina da Palavra, ou, pelo novo nome, Oficina Cultural Casa Mário de Andrade, cuja programação é voltada para o teatro e literatura. Desde 2015,  a casa se tornou um museu onde são expostos seus óculos, cartas inéditas, sua pasta de couro e outros itens característicos de Mario de Andrade.
A Casa foi reaberta no ano em que o autor completaria seus 70 anos.[
Mário de Andrade



Nascido 9 de outubro de 1893 em São Paulo, filho de Carlos Augusto de Moraes Andrade e Maria Luísa Leite Moraes Andrade, Mário de Andrade graduou-se no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.  Seu ofício com literatura se iniciou cedo com críticas redigidas à  veículos de comunicação.  Durante sua vida, Mario foi professor de piano,  músico,  crítico em revistas e jornais,  romancista, compositor, poeta, pesquisador e contista.  Além disso, fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore, trabalhou em diversos cargos públicos, como por exemplo, diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo. Também, viajou pelo Brasil todo para conhecer e fazer pesquisas, ou seja, descobriu canções populares,  lendas,  músicas indígenas, festas religiosas e outros.  Mário lecionou durante um período de tempo na  Universidade do Distrito Federal ( Rio de Janeiro )  e operou vários cargos públicos relacionados à cultura, participando também de importantes revistas modernistas como: "Klaxon",  em que publicava poemas e críticas ao âmbito artístico," Estética" e "Terra roxa e  outras terras".
Mario de Andrade ganhou reconhecimento literário por ter participado do Modernismo no Brasil, ajudando a organizar a  Semana da Arte Moderna de São Paulo,  que ocorreu do dia 13 à 18 de fevereiro do ano de 1922 no  Teatro Municipal de São Paulo,  quando publicou um livro que marca o início do novo movimento:  Paulicéia  Desvairada.  No livro, Mario faz uma análise da sociedade paulista do início do  século XX,  que passava por um período de transição, se tornando cada vez mais urbana.  Apesar disso, sua obra mais importante foi  Macunaíma,  que retrata o povo brasileiro sem tentar heroizá-lo.


Arquitetura da Casa




Na década de 20, a casa era considerada simples e de alguém de poucas posses, possuindo um caráter diversificado de arquitetura. No jardim, uma estátua de metal com 300 quilos e sete metros de altura do artista decora e ornamenta a parte externa da casa. A obra foi realizada a partir de um desenho do Mario feito pela Beatrix Scherman (norte-americana). O desenho faz parte atualmente do acervo do Instituto de Ensino Brasil-Estados Unidos (IEB) (Instituto de Estudos Brasileiros). 
Logo na entrada, o visitante visualiza uma escultura que imita seus óculos redondos e um armário com muitos objetos pessoais quer pertenciam a Mario, como por exemplo sua  carteira de trabalho,  um caderno de finanças e seus documentos eleitorais. Mais para frente, a esquerda da entrada, há uma grande sala com várias cadeiras, local onde ocorre os principais eventos ainda hoje. 
Ainda no primeiro andar, há uma biblioteca onde Mario tocava e dava suas aulas de piano. Neste mesma sala há livros arquivados em uma grande estante (disponíveis para leitura), um piano no centro e desenhos de partituras, como papéis de parede. Porém, é importante citar que os livros presentes não pertenciam à coleção original, são na realidade obras ligadas ao Mario e aos modernistas. Sem sair do primeiro andar, encontramos uma outra sala (próxima a biblioteca) com diversos retratos das fases de Mario; Vídeos feitos por ele em visita ao  Peru, a Bolívia, a Minas Gerais e a Belém.   Um programa feito durante a Semana de Arte Moderna; E postais enviados para ele por amigos. 

Restauração
A mãe de Mario, Maria Luísa, inicialmente comprou três sobrados, um ao lado do outro. Ela moraria na primeira, o seu filho mais velho na segunda e na terceira seu filho do meio quando ele se casasse, o que nunca chegou a acontecer. Mario morou com sua mãe, prima e tias até quando resolveu ir para o Rio de Janeiro.
Até então apenas a primeira casa das três foi, obtendo melhorias tanto na parte interna quanto na parte externa da mesma. Dessa forma, até as calçadas e os canteiros foram restaurados. O prédio foi inteiro pintado e os pisos, forros e a fiação elétrica foram todos trocados. O piano e a estante de livros que Mario usava para dar aulas também foram restaurados e atualmente são expostos na casa.

Mario faleceu de um ataque cardíaco, vítima de um enfarte do miocárdio,  aos 51 anos,  em São Paulo,  no dia 25 de fevereiro do ano de 1945, e foi enterrado no  Cemitério da Consolação,  localizado na região central da cidade de São Paulo.




Cemitério da Consolação