segunda-feira, 30 de setembro de 2013

William Kentridge

A Pinacoteca aborda em retrospectiva, vários aspectos da criativa produção do sul-africano Willian Kentridge

Pinacoteca do Estado de São Paulo - Praça da Luz 2 - até 17 de novembro de 2013.


Ninguém pode dizer que o sul-africano William Kentridge, de 58 anos se acomoda em um estilo único e repetitivo. A enorme e excelente retrospectiva Fortuna, em cartaz na Pinacoteca depois de passar pelo Instituto Moreira Salles ( Rio de Janeiro ) e pela Fundação Iberê Camargo ( Porto Alegre ), explora as muitas vertentes da produção de um artista irriquieto. São 184 gravuras, 38 desenhos, 27 vídeos e dez esculturas, realizadas de 1889 a 2012. Vale a pena dedicar um bom tempo às animações elaboradas em processo  artesanal, quadro a quadro bem humoradas e, às vezes, comoventes.
Os esboços em carvão e pastel reunidos pela curadora Lilian Tone ajudam a entender a criação dos filminhos. Há também intervenções feitas em enciclopédias, dicionários e, especialmente para o público brasileiro, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, o clássico romance de Machado de Assis. A principal surpresa da mostra, no entanto, está no octógono do museu.
Ali fica a instalação  A Recusa do Tempo, inspirada em teorias sobre buracos negros e relatividade, cujas projeções nas paredes resultam em experiências sensoriais para os espectadores.

Jonas Lopes







Celebração da Bienal

Pavilhão da Bienal
Parque do Ibirapuera - portão 3 - até 8 de dezembro-2013


Coletiva no Parque do Ibirapuera homenageia a trajetória da arte brasileira ao longo das trinta edições da mostra.

Como 2013 é um ano sem Bienal de São Paulo, a maneira encontrada para homenagear a história do evento, iniciado em 1951, foi uma grande mostra sobre a trajetória da arte brasileira nessas seis décadas e trinta edições.`
A julgar pela seleção de 30 x bienal, composta de cerca de 250 obras de 111 artistas, reunidas pelo curador Paulo Venâncio Filho. A  organização do espaço, definida mais por afinidades estéticas do que pela cronologia, revela-se fluída e convidativa. Ao visitar a área climatizada do pavilhão no 3 andar, o espectador pode até se surpreender com a quantidade de coisa boas no Brasil no último século.
Estão ali Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Maria Leontina  e outros. Há ainda um diálogo formal notável entre as telas de Volpi e os relevos de Sérgio Camargo. O modernista German Lorca sobressai na fotografia. Dos trabalhos contemporâneos, destaque para a pintura da década de 80, praticada por Jorge Guinle, Adriana Varejão e os paulistanos do grupo Casa 7.




sábado, 28 de setembro de 2013

São Paulo Vertical : O Edifício Martinelli

Edifício Martinelli
Praça Patriarca - São Paulo



Trata-se de verdadeiro ícone da arquitetura paulistana. A iniciativa de sua construção deve-se a um italiano nascido em Luca, em 1870, que decidiu migrar Aos  19 anos  para o Brasil. Aqui exerceu atividades  de mascate e açougueiro, mas a perseverança com que enfrentou  as condições de trabalho, aliada a excecional talento empreendedor, fez com que rapidamente galgasse lugar proeminente no mundo dos negócios.
As oportunidades surgiram quando ainda era funcionário de uma empresa de importação de secos e molhados, a Fratelli Fiaccadori, e cuidava do processo alfandegário em Santos. Não demorou muito para que Giuseppe Martinelli criasse sua própria empresa e passasse a exportar café e a fazer operações de câmbio, obtendo a representação de companhias de  navegação.

Com a eclosão da Primeira  Grande Guerra, investiu na compra de navios sucateados e  manteve comércio regular com países europeus, o que lhe permitiu fundar o Lloyd nacional, empresa que vendeu ao governo brasileiro, mais tarde, com uma frota de 22 unidades. Dono de grande fortuna, Martinelli podia se dar ao luxo dos mais diversos atos de benemerência, como o que foi notificado pelo jornal O Paiz, em 29 de abril de 1916, ao fazer a doação de 100 mil francos a cruz Vermelha Italiana, na qual era agente no Brasil.

Na década seguinte, vamos encontrá-lo à frente de empreendimentos diversificados : as ricas minas de carvão de Jacuí e Butiá, no Rio Grande do Sul, as companhias de seguro Lloyde Atlântico e Indenizadoras, os estaleiros Guanabara e  a manufatura de fumos Sanitas, no Rio de Janeiro, entre outros. Mas Martinelli acalentava, desde os tempos em que vivia na Itália, o sonho de realizar um obra de arquitetura. Como era proprietário de terreno na área central da cidade de São Paulo, na esquina da Rua São Bento com a Ladeira São João, pediu ao engenheiro húngaro William Fillinger que projetasse a construção de um edifício naquele lugar.
Os desenhos iniciais previam 12 andares , que logo se transformariam em 14 e, pouco depois em 18de dezembro de 1924, quando foi assinado o contrato com a Firma Amaral e Simões Engenheiros, era esse o escopo pretendido.
É importante lembrar como se apresentava a fisionomia urbana de São Paulo, naquela época, a fim de compreender o  impacto da obra de Martinelli, eram poucos os edifícios altos na cidade.
O Prédio Martinico, de 1904, ficava no largo do Rosário ( hoje praça Antônio Prado) e seria logo suplantado pelo Edifício Guinle, de oito pavimentos na Rua Direita, e pelis 12 andares da sede do escritório de Ramos de Azevedo, na rua Boa Vista. Em 1924, seria a vez do edifício Sampaio Moreira, na Líbero Badaró, cujos 14 pavimentos configuravam a estatura de um verdadeiro arranha -céu. A regulamentação do uso de elevadores, em1920, e a abertura da primeira fábrica de cimentos Portland, em Perus, em 1926, foram importantes fatores para o desenvolvimento da verticalização paulistana, embora se manifestasse, nesse período, um verdadeiro embate entre diferentes tipos de restrição ao adensamento urbano expressos na legislação municipal.

O projeto de Giuseppe Martinelli, estimulado pela perspectiva de superar os marcos arquitetônicos então existentes na cidade e aqueles que surgiam no Rio de Janeiro e em Bueno Aires, foi se tornando cada vez mais ambicioso e complexo. Os problemas começaram com as primeiras escavações e a necessidade de drenar a inesperada quantidade de água que minava no subsolo do terreno. Os alicerces do prédio vizinho ficaram abalados, e sua proprietária embargou as obras do novo edifício: a solução foi comprar o imóvel, o que levou o empresário a dotar o projeto original de mais um bloco. A quantidade de material necessário - madeira, pedra britada, ferro de aço e cimento, importad da Suécia e da Noruega - implicava tanta despesa que levou a construtora à falência, dois anos depois. Os trabalhos passaram então a ser coordenados pelo próprio Martinelli e por seu sobrinho, Ítalo Martinelli, arquiteto formado pelo Mackenzie. A planta original ia sofrendo alterações, à medida que lhe eram acrescentados novos pavimentos. Os 20 andares previstos na planta de  1928 transformaram-se 24, acarretando novo embargo das obras, desta feita por iniciativa  da Prefeitura. O episódio foi bastante explorado pela imprensa,  que, em suas hipóteses alarmistas, contou com as afirmações dos engenheiros falidos, que moviam ação contra Martinelli.

Giuseppe Martinelli vendeu o prédio a um banco italiano em 1934, para saldar dívidas contraídas durante sua construção. de volta ao Rio de Janeiro, refez sua fortuna com outros empreendimentos : minas em Santa Catarina, companhia de navegação, salinas no Norte do país e até mesmo empresa de distribuição das produções do cinema o italiano ( a Star Filmes).

Embora afastado de São Paulo, cultivou até sua morte, em 1946, o orgulho de ter sido responsável pelo mais alto edifício da cidade. Tal primazia só seria desbancada um ano depois, com  a inauguração de outro monumento paulistano : a sede do Banespa.

Revista do Historiador - edição 167.


 
Foto da inauguração do Edifício Martinelli em 1929
 
 
Giuseppe Martinelli