sábado, 16 de julho de 2016

O Obelisco da Faria Lima

 
 
Monumento à Aldeia de Nossa senhora dos Pinheiros 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quem circula nas imediações da Estação Faria Lima do metrô pode não notar uma estrutura de 7,5 metros de altura em meio a postes de iluminação, placas de trânsito e demais mobiliários urbanos do Largo da Batata. Criado em 1971 pelo escultor paulistano Luiz Morrone, também autor do brasão de armas do estado, o Monumento à Aldeia de Nossa Senhora dos Pinheiros, é uma coluna de blocos de granito com relevo de bronze no topo. Nesse detalhe, estão gravadas figuras de índios, jesuítas e bandeirantes, personagens ligados ao povoado surgido em 1560 que se tornaria o bairro de Pinheiros.
 
 




Em 2005, para dar continuidade às obras de construção da Estação Faria Lima, a peça foi retirada do local com acompanhamento do CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e levada ao Canteiro Jaguaré da Linha 4, onde teve o granito e as partes metálicas limpos e recuperados.
Para executar esses trabalhos, foi contratado um escritório especializado em “restauro conservativo”, que antes de iniciar a limpeza da obra, apresentou propostas para a reinserção do patrimônio histórico na paisagem cultural da cidade.






 Autor Luiz Morrone (São Paulo, 1908 – 1998)

“Quantas vezes por dia, andando pela rua, a gente não passa diante de um monumento público e o máximo que conseguimos saber é o nome da figura histórica homenageada ou quando a informação é um pouco maior, lembramos das autoridades ou associações que mandaram esculpir a obra?
Agora, o que raramente chegamos a saber (ou nos preocupar em) é o nome do artista, do escultor que criou o monumento. Quando o artista Luiz Morrone falava do assunto não havia  nada de tristeza, nem mágoa pela falta de reconhecimento público ao seu trabalho. É apenas a constatação de um fato que qualquer um, mais atento, pode fazer.
Luiz Morrone acabava  de criar para a Associação Paulista de Críticos Teatrais a estatueta do prêmio Gil Vicente, que seria fundida em bronze e entregue anualmente aos melhores do teatro (direção, ator, atriz e autor nacional). Logo que recebeu o pedido da APCT, o escultor se prontificou em fazer o trabalho, ele que há muito tempo estava ligado ao teatro (é pai do ator Laerte Morrone).
O contato de Luiz Morrone com teatro e Gil Vicente vinha  de muitos anos. Esculpiu no início de sua carreira um busto do dramaturgo mais significativo da língua portuguesa, para um clube recreativo no Brás e,  em 72, teve a chance de retomar o tema ao esculpir a estatueta do prêmio da Associação dos Críticos.
Foi inspetor do Ensino de Belas Artes e membro do Conselho Estadual de Honrarias e Méritos no Palácio do Governo, Luiz Morrone aos catorze anos diplomou-se na Escola de Belas Artes, começando então a trabalhar com Ximenes, seu mestre, no monumento do Ipiranga e na Catedral da Sé. Fez na mesma época esculturas para o Teatro Oberdam no Brás.
Seu primeiro trabalho público, monumento em homenagem ao Major Bolivar de Araripe Sucupira, herói da Batalha do Avaí, foi colocado em Jundiaí em 1934. Desde então seu trabalho tinha  sido intenso, somando até hoje mais de quinhentos monumentos e hermas, oito dos quais se encontram em Portugal. A principal foi inaugurada pelo Presidente da República, Almirante Américo Tomas – uma estátua de cinco metros do bandeirante Antônio Raposo Tavares, que foi colocado em sua cidade natal, Beja.
Ainda na lista de trabalhos internacionais do escultor paulista Luiz Morrone estão: um trabalho na Argélia, um na Filadélfia, três na Bolívia. Menos em Belém e em Brasília, os seus trabalhos estão em todos os Estados brasileiros. No caso específico de Brasília, o artista compreende que apesar dos aplausos que recebia à sua obra do famoso Niemeyer, a sua escultura seguia uma linha neoclássica que, logicamente, não se enquadra no modernismo que caracteriza a Capital do País.
Luiz Morrone orgulhava-se  sempre ter vivido de sua arte, sem precisar recorrer a outra atividade distante. Mas para tanto – com isso, ele mesmo concordava – é preciso ser um bom profissional. E Luiz Morrone  provou  isso desde os seus catorze anos ao sair da escola de Belas Artes.