terça-feira, 31 de março de 2020

Museu do Ipiranga



Com reabertura prevista para 2022, o Museu do Ipiranga, que foi fechado em 2013, passa por obras de restauro e modernização. Desde dezembro, uma equipe da empresa de software Autodesk realiza o mapeamento tridimensional de artigos do acervo, do edifício e de seu entorno.
“Precisamos nos mostrar presentes na cultura digital e também a distância”, afirma a diretora do museu, Solange Ferraz de Lima. O material poderá ser utilizado em passeios e games virtuais e na gestão da entidade, com integração ao sistema de segurança. “O modelo, associado a um banco de dados, é inteligente. Saberemos quantas árvores existem por lá, por exemplo”, explica o engenheiro Pedro Soethe.
Considerando-se as perdas incalculáveis no incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro em 2018, o projeto consistirá também em uma forma de conservar o patrimônio do Ipiranga. “Trata-se de mais uma plataforma de documentação possível para nós”, diz Solange.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673.

História do Museu do Ipiranga











Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga ou também simplesmente Museu Paulista, é o museu  público mais antigo da cidade de São Paulo , cuja sede é um monumento-edifício que faz parte do conjunto arquitetônico do  Parque da Independência.  É o mais importante museu da  Universidade de São Paulo  e um dos mais visitados da  capital paulista.



O museu foi inaugurado oficialmente em 7 de setembro de  1895  com o nome Museu de História Natural. Este importante símbolo da  Independência do Brasil  está vinculado à   Universidade de São Paulo  desde 1963, como uma instituição científica, cultural e educacional que exerce pesquisa, ensino e extensão com atuação no campo da  História. 
É responsável por um grande acervo de  objetos, mobiliário e obras de arte  com relevância histórica, especialmente aquelas que possuem alguma relação com a Independência do Brasil e o período histórico correspondente. Uma das obras mais conhecidas de seu acervo é o quadro  "Independência ou Morte", pintado pelo artista Pedro Américo,  em 1888, recebendo em média 350 mil visitas anuais. Além de exposições, as atividades do Museu do Ipiranga se estendem por meio de programas educativos, como cursos e pesquisas científicas que fazem uso dos recursos humanos e do acervo permanente da instituição. A ampliação de coleções se faz por meio de doações ou aquisições e parte importante das atividades desenvolvidas no museu envolve a conservação física, estudo e documentação do acervo.






Em 1922, no período do Centenário da Independência, formaram-se novos acervos, principalmente abrangendo assuntos da  História de São Paulo,  e executaram a decoração interna do edifício, contando com pinturas e esculturas no Saguão, na Escadaria e no Salão Nobre que apresentassem a  História do Brasil,  para assim reforçar a instituição como um símbolo histórico brasileiro. Foi nesta época que se instalou o Museu Republicano "Convenção de Itu",  uma extensão do Museu Paulista no interior do  Estado de São Paulo.  Desde agosto de 2013, o museu está fechado ao público "para obras, restauros e reparos" após um estudo apontar que a estrutura do prédio estava abalada. A previsão de reabertura é para o ano de 2022, como parte das comemorações do bicentenário da Independência



A data de 7 de setembro de 1822 como um marco da história nacional foi, também, uma construção política. O ato da proclamação, do então príncipe  Pedro I do Brasil, no Riacho do Ipiranga,  teve pouca repercussão na imprensa na Corte do Rio de Janeiro. Nem mesmo o próprio protagonista do episódio, D. Pedro, deixou registros a seu respeito na carta que escreveu dirigindo-se aos paulistas no dia seguinte ao Grito do Ipiranga. Somente em setembro de 1823, na Assembleia Constituinte, é que membros do governo da província de São Paulo iniciaram as discussões sobre a possível construção de um monumento em memória do Grito. Somente em 1826, o Parlamento aprovou a introdução do 7 de setembro na categoria de "festividade nacional".
A partir daí o debate acerca de uma construção imponente de demarcação da data histórica foi ganhando espaço, mas sempre sendo postergada sob a justificativa da falta de recursos. Foi somente entre 1885 e 1890, ao mesmo tempo em que se intensificaram as propagandas republicanas e a luta  abolicionista,  que se deu a resolução do que órgãos da imprensa paulista da época chamavam de “questão do Ipiranga”. Desta forma, em meio a muitos debates e desencontros de ordem política, o Museu do Ipiranga veio para demarcar definitivamente o lugar de proclamação da  Independência do Brasil,  assinalando no imaginário popular o momento a partir do qual teria se originado a nação brasileira.




O edifício, inicialmente projetado para concretizar a versão conservadora da proclamação da independência, adquiriu outros significados a partir da  Proclamação da República,  dentre eles o de “renascimento da nação”. Com sua apropriação pelo  governo do Estado de São Paulo,  que o transformou em museu público, a resinificação do monumento passou pela ideia de que a história do progresso nacional era a história do progresso de  São Paulo,  colocando a colina do Ipiranga como uma caminho articulador das riquezas com o  Porto de Santos, então recém-inaugurado.

Construção









O arquiteto e engenheiro italiano  Tommaso Gaudenzio Bezzi  foi contratado em 1884 para realizar o projeto de um monumento-edifício no local onde aconteceu o evento histórico da Independência do Brasil, embora já existisse esta ideia desde aquele episódio, em  1822. O edifício  começou a ser construído em 1885 e conta com 123 metros de comprimento e 16 metros de profundidade com uma profusão de elementos decorativos e ornamentais. O estilo arquitetônico e  eclético  foi baseado no de um palácio renascentista. A técnica empregada foi basicamente a da  alvenaria  de tijolos cerâmicos, uma novidade para a época (a cidade ainda estava acostumada a construir com  taipa de pilão).

As obras encerraram-se em 15 de novembro de 1890, no primeiro aniversário da República. Cinco anos mais tarde, foi criado o Museu de Ciências Naturais, que se transformou no Museu Paulista. Em 1909, o  paisagista belga Arsênio Puttemans  executou os jardins ao redor do edifício. Este desenho de jardim foi substituído, provavelmente na década de 1920, pelo paisagismo do alemão Reynaldo Dierberger, desenho que se mantém, em sua maior parte, até os dias atuais.

Em 1922, época do Centenário da Independência, o caráter histórico da instituição foi reforçado, quando novos acervos foram criados, com destaque para a História de São Paulo. A decoração interna do edifício foi criada, com pinturas e esculturas apresentando a História do Brasil no Saguão, Escadaria e Salão Nobre. Também foi inaugurado o Museu Republicano "Convenção de  Itu, extensão do Museu Paulista no  interior paulista.

Ao longo do tempo, houve uma série de transferências de acervos para diferentes instituições. A última delas foi em 1989, para o  Museu de Arqueologia e Etnologia  da USP.  A partir daí, a instituição vem ampliando seus acervos referentes ao período de 1850 a 1950 em São Paulo.

Como órgão da  Universidade de São Paulo  desde 1963, o museu exerce pesquisa, ensino e extensão.
 Até seu fechamento para reformas, o Museu Paulista possuía um acervo de mais de 125.000 unidades, entre objetos, iconografia e documentação textual, do século 17 até meados do século 20, significativo para a compreensão da sociedade brasileira, especialmente no que se refere à história paulista e conta com uma equipe especializada de curadoria. Desenvolve também um Projeto de Ampliação de seus espaços físicos.

Século XXI




Em agosto de 2007 o Museu Paulista sofreu com problemas relacionados a  segurança, quando 900 cédulas e  moedas  raras foram furtadas.  Neste acervo  encontravam-se moedas emitidas na  Áustria e na Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial  e brasileiras do século XX. O furto foi descoberto por um funcionário que, enquanto limpava o banheiro  dos funcionários, encontrou em um saco de lixo algumas cédulas antigas e envelopes  usados para guardas as peças.

Em setembro de 2007 a policia conseguiu recuperar parte do acervo que havia sido furtado, porém ninguém foi preso. Na época o material furtado chegou a valer 100 mil  reais. 

Em consequência deste caso, a segurança do museu foi reforçada em dezembro de 2007, com a adição de novas câmeras de vigilância mais modernas e alarmes, e os funcionários passaram por um treinamento para aprenderem a lidar com casos de furtos e roubos




Restauração

Em agosto de 2013 o Museu Paulista foi fechado após a constatação de problemas em sua estrutura. Desde então, a maior parte do acervo do Museu foi transferida para imóveis locados exclusivamente para armazenamento desses volumes. Muitas peças do acervo vêm sendo emprestadas a outros museus e espaços culturais para a realização de mostras. A Biblioteca foi reaberta ao público em outro endereço no próprio bairro do Ipiranga, bem como as atividades acadêmicas e educativas que são oferecidas pela instituição. O Museu declarou uma previsão de gastos iniciais de 21 milhões de reais, mas posteriormente alterado para 100 milhões de reais.

O início das obras de restauração e modernização do museu foi previsto para 2019, e a reabertura prevista para 2022, ano da comemoração do bicentenário da  Independência do  Brasil.
Em outubro de 2019, as obras foram retomadas após seis anos parada. A empresa Concrejato foi anunciada como construtora selecionada para realizar o restauro e a modernização do edifício. Etapas previstas no projeto executivo tiveram início, entre elas a montagem do canteiro de obras, a proteção dos bens artísticos integrados à construção, o acompanhamento arqueológico, além de uma série de laudos, prospecções e planejamentos que irão garantir a execução segura da obra. Prospecções e testes laboratoriais são ações que integram uma intervenção desse tipo. A argamassa e as tintas são analisadas, pois precisam ter características especiais, semelhantes às que eram utilizadas no século XIX.
O museu será ampliado em cerca de 6 mil metros quadrados. A nova entrada, com ligação direta com o  Parque da Independência,  será instalada no nível das fontes. Ali, haverá uma área de acolhimento, além de salas para atendimento do programa educativo, café, loja, auditório e uma sala para exposições temporárias. Desse piso, um túnel levará até as escadas rolantes, pelas quais será possível entrar no hall do edifício histórico. Também serão instalados elevadores. Com duração de 30 meses, a obra deve custar cerca de 139,5 milhões de reais e é patrocinada via  Lei do Incentivo à Cultura pelas seguintes empresas:  Banco Safra, Bradesco, Caterpillar, Comgás, Companhia  Siderurgica´Nacional (CSN), EDP, Honda, Itaú, Vale SA, Sabesp e  Pinheiro Neto Advogados. Conta, ainda, com a parceria da Fundação Banco do Brasil e da Caixa Cultural.