quarta-feira, 20 de abril de 2016

Olivia Guedes Penteado - Uma Dama do Modernismo





Olívia Guedes Penteado

 



A histporia oficial sempre relegou a participação da mulher na vida política e social do Brasil,
enquanto que a historiografia atual procura resgatar sua presença nos acontecimentos histórico-sociais. Uma das presenças femininas mais marcantes em nossa histporia literária e artística é a de Olívia Guedes Pentado. Nascida em Campinas em 1872, sua infância transcorreu simples e calma na fazenda da  Barra, próximo a Mogi-Mirim.
Transferindo-se para a capital, seus pais José Guedes de Souza e Carolina de Almeida Lima, esmeraram-se no gosto francês, principalmente a literatura e a música. Aos dezesseis anos, Olívia casou-se com seu prino Inácio Leite Penteado, diplomado em comércio, e foi morar em Santos. Nessa cidade, infelizmente, houve uma epidemia de febre amarela, ceifando vidas preciosas. Alarmados, Inácio e Olícia mudaram  para LSão Paulo, onde fixaram residência na rua Conselheiro Nébias, um palacete projetado por Ramos de Azevedo, em estilo resorgimento italiano.


Mansão da rua Conselheiro Nébias.

 
 
São paulo, nas primeiras décadas do século, experimenta um novo processo de urbanização desenfreada e excludente. Foi nesta fase que a capital paulista se tornou ponto de confluência de milhares de imigrantes vindos da Europa Ocidental e Japão, aumentando sua capacidade produtiva. A verdade é que, nessa época, a cidade, administrada por Antônio Prado, alcança status de metrópole, cumprindo assim o destino de polo econômigo e político do país, que lhe fora oirtorgado desde o "boom" cafeeiro.
A esse tempo, a família Penteado levava intensa vida social, recebendo semanalmente membros de ilustres famílias paulistanas e frequentando temporadas líricas e estações de água. Pouco tempo depois, a família foi morar em Paris. Em seu apartamento, recebia amigos brasileiros e franceses para o tradicional chá. Entretanto Inácio ficou doente, obrigando o casal a voltar para São Paulo. Pouco depois o marido faleceria. Viúva aos 43 anos, mais tarde se casaria com o dr. Godofredo da Silva Teles. Não Podendo regressar à França por causa da Primeira Guerra Mundial, Olívia resolve permanecer em São Paulo. 
Terminada a Guerra, em 1918, e o declínio da epidemia de gripe espanhola, ela anciosa para ver como se encontrava sua residência parisiense, retornou ao Velho Mundo, ali permanecendo pelo espaço de dois anos.
Em 1922 se desfez de seu apartamento e regressou definitivamente ao Brasil, ocupando a mansão da rua Conselheiro Nébias. Deve-se ressaltar que o casal morou nesse palacete até a morte de Olívia. Pouco depois o prédio foi demolido para dar lugar à construção do Hotel Comodoro.
Estimulada por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, ela começou a se envolver nas ondas agitadas do nosso maremoto modernista.
Entusiasmada pela grande revolução estética, não só aderiu às novas idéias, como também se encantou pelo seu pensamento estático. Comentava sempre que seus amigos modernistas desejavam um linguagem e uma comunicação, tanto literária quanto visual que pudessem atender aos novos tempos, sem o ranço dopassado.
 
Dois anos após a rumorosa Semana da Arte Moderna, ela inaugurava os seus salões para o grupo modernista de São Paulo. Procurou reviver nessa época todo o esplendor do salão europeu onde os homens pudessem fechar negócios, arquitetar lances políticos e as senhoras, exibir seus dotes literários e musicais. Uma espécie de regra era que, em determinado dia da semana, os comensais chegariam uma hora mais cedo para, na bibioteca, ler trechos de obras previamente selecionadas de autores nacionais e estrangeiros.
 
Muita interessada na política, Olívia trabalhou intensamente pela eleição da primeira deputada federal, Carlota Pereira de Queiróz, que se notabilizaria em defender a criança e a mulher.Por ocasião da revolução de 1924 ela chegou a abrigar em sua residência o poeta vanguardista suíco-francês Blaide Cendras das bombas que caíam na região. Duas viagens do clâ modernista de São Paulo foram históricas.
Vítima de crise de apendicite, lutou bravamente contra a infecção que sobreveio à operação. Internada no Instituto Paulista, sem os recursos necessários, veio a falecer a 9 de junho de 1934.
Acha-se sepultada no Cemitério da Consolação, em túmulo encimado por admirável escultura de Brecheret - A Descida da Cruz.
 




Cemitério da Consolação - São Paulo

Sepultura no Cemitério da Consolação, escultura de Brecheret  - A descida da Cruz







Publicado na revista do Historiador - edição 181

Foto da sepultura : Manoel de Brito