sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pioneiros da cidade de São Paulo

São Paulo abriga hoje 2546 agências bancárias, 410 hotéis, 205 hospitais, 95 parques ( ou demais áreas verdes) e nove estádios de futebol. Com essa profusão de opções, é relativamente fácil encontrar locais como esses espalhados pela cidade. Até o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX, no entanto, alguns ramos de negócios, serviços e áreas de lazer ainda eram novidades por aqui. Estabelecimentos e espaços pioneiros chegaram mesmo a reinar sozinhos em seu nicho de mercado, sem concorrência, por anos a fio.

Oficina Mecânica - 1904
Das carruagens aos automóveis

O primeiro carro a circular em São Paulo foi um modelo a vapor trazido do exterior em 1893 por Henrique Santos Dumont, irmão do pai  da aviação. Mas levou mais de uma década até que a primeira oficina mecânica especializada nessas máquinas abrisse as portas. Quem iniciou o negócio foi a empresa Luiz Grassi & Irmão, fundada em 1904 para construir carroças e carruagens. Logo em seguida, no entanto, os proprietários Luiz Fortunato Grassi notaram o aumento no número de automóveis e nas ruas e passaram a oferecer serviços de manutenção nas instalações da indústria, na Rua Barão de Itapetininga, no centro. "Até os anos 20, quando as primeiras montadoras se estabeleceram no Brasil, era preciso desembolsar uma pequena fortuna para trazer o artigo de luxo do exterior", diz Ricardo Oppi, professor de restauração do Clube do carro Antigo. A empresa também seria pioneira na fabricação de ônibus, área na qual se especializou até seu fechamento em 1970.
Luiz Grassi & Irmão - Rua Barão de Itapetininga, 37 - centro.

Faculdade - 1827



Berço se presidentes, governadores e prefeitos.

Sonhando com uma instituição para formar políticos, o imperador dom Pedro I fundou em 1827 uma faculdade de direito no convento do Largo São Francisco, onde já funcionava um biblioteca.
A escola cumpriu seu papel graduando doze presidentes da República, 44 governadores do estado e doze prefeitos, incluindo o atual, Fernando Haddad. Escritores de renome como José de Alencar também passaram por ali. Em 1934, ela seria incorporada à então recém-criada USP.

 
Faculdade - 2013
 
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - Largo São Francisco, 95 - centro

Banco - 1856

 
Crédito do progresso
 
Em janeiro de 1856, o Banco do Brasil inaugurou sua primeira sede em São Paulo. Mas não se tratava de uma filial da matriz carioca. "Era autônoma  com acionistas e diretoria diferentes", diz o historiador Ney Oscar Ribeiro de Carvalho. Sua função era oferecer crédito para financiar as despesas do Estado, em uma cidade que começava a prosperar com o ciclo do café. O atendimento a pessoas físicas só surgiu na década seguinte. O BB foi o único da capital até 1870, quando o English Bank of do Rio de Janeiro abriu uma agência  aqui. Em 1891, ele deixou a Rua São Bento e o prédio  que seria ocupado pela Casa Fretin, loja de acessórios médicos que funcionou até 2002.
 
 

Banco do Brasil -   2013 -  Rua São Bento ( esquina com a Rua da Quitanda), centro.
 
 
 
Hospital - 1884
 
 
 
Para doentes e apostadores.
 
Fundada por volta de 1560, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia nasceu para oferecer serviços médicos  a paulistanos de baixa renda e era bancada com doações de figuras da alta sociedade. Ao longo de vários séculos, a entidade filantrópica esteve instalada em locais como o Largo da Misericórdia, a Chácara dos Ingleses e a Rua da Glória. Em 1884, no entanto ganhou uma sede definitiva com a construção de um hospital na Vila Buarque onde está até hoje. Em sua história, a Santa Casa teve participação direta em episódios marcantes como a Revolução de 1932, durante a qual recebeu e tratou soldados feridos no confronto. O pioneirismo da instituição não se resume aos assuntos ligados à área  da saúde. No hospital, foi ela a responsável pela primeira loteria da capital.
 
Santa Casa de Misericórdia - Rua Cesário Mota Júnior, 112 - Vila Buarque - 2013
 
 
Santa Casa -2013

 
 
Horto e zoológico  -  Jardim da Luz 1825
 
Criado em 1800 como um horto botânico, o Jardim da Luz tornou-se o primeiro parque público da cidade em 1825, época em que já recebia a visita de muitos moradores nos fins de semana. Ao longo do seu primeiro século de vida, passou por diversas reformas e ganhou melhorias, a exemplo do famoso coreto, além de novas espécies de plantas e fontes. Em 1865,com a inauguração da estação ferroviária vizinha, consolidou-se como um dos principais espaços de lazer da capital. Essa faze durou até 1930, quando perdeu seu zoológico e as grades que o circundavam, tornando-se principalmente uma via  de acesso aos trens, o que desencadeou um período de decadência. Em 1998, ao ser incorporado à Pinacoteca, teve início um lento processo de restauração.
 
 
Jardim da Luz - 1825
 
 
 
 
Jardim da Luz - 2013
 
 

Hotel - 1850 - Casa suspeita

Transportando sacas a caminho d Porto de Santos, os cafeicultores  paravam em São Paulo no século XIX para pernoitar. Havia poucas hospedarias, em geral precárias, e os viajantes carregavam cartas de recomendação para ser abrigados na casa de moradores. "O primeiro hotel a surgir aqui foi provavelmente o Palm, nos anos 1850, que se chamou também Lion D'Or e Hotel des Voyageurs", diz o presidente de assuntos turísticos e imobiliários do Secovi-SP, Caio Calfat. Uma das primeiras construções de tijolos em um sobrado no Largo do Capim ( hoje Largo do Ouvidor). Com fama de ambiente promíscuo, era visto com reservas pela sociedade da época: uma mulher que dormisse ali certamente ficaria "malfadada". Locais mais luxuosos só foram abertos  anos mais tarde, como o Grande Hotel em 1878.

 
Hotel Palm - Largo do Ouvidor, centro - 1850
 
 
Largo do Ouvidor - 2013  
 
Penitenciária - 1852
 
A cadeira silenciosa
 
Instalada na Avenida Tiradentes, a Casa de Correção começou a funcionar antes mesmo de sua primeira inauguração, em 1852, recebendo seus primeiros internos ainda durante as obras. Os detentos viviam sob um regime criado nos Estados Unidos chamado de Auburn : durante o dia trabalhavam em completo silêncio e à noite dormiam em cela individual.
As conversas eram proibidas até no refeitório.
Bombardeado durante as revoluções de 1924 e 1932, o prédio perdeu de pé e foi submetido a sua última reforma em 1938, quando ganhou o nome de Casa de Detenção - depois ficaria conhecido como Presídio Tiradentes, Abrigou presos políticos tanto da era Vargas ( um dos célebres foi Monteiro Lobato) como a ditadura militar ( entre outros, a presidente Dilma Roussef), funcionou no mesmo endereço até 1972, quando sua estrutura foi abalada  pelas obras do metrô. Demolido, restou apenas o antigo arco da entrada, preservado como patrimônio histórico da cidade. O terreno foi usado para a construção do teatro Franco Zampari, que serviu como estúdio para a TV Cultura a partir de 1980.
Presidio Tiradentes - Av. Tiradentes, 451