quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Egito Antigo : Do Cotidiano à Eternidade


                                       Egito Antigo: Do Cotidiano à Eternidade 

                                         Centro Cultural do Banco do Brasil
















“Egito Antigo: Do Cotidiano à Eternidade” chega a São Paulo. A exposição, gratuita, abriu ao público,  de 19 de fevereiro a 11 de maio no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da cidade.




O CCBB em São Paulo não conseguirá chegar perto do volume de público do Rio, já que seu espaço expositivo é muito menor que o do CCBB carioca. Assim, as visitas, que deverão ser agendadas pela internet para evitar filas, estarão limitadas a 8.500 pessoas por dia. A estimativa é receber 500.000 pessoas em quase três meses de exposição.




Tjabbes, historiador de arte, é um dos curadores de Egito Antigo: do Cotidiano à Eternidade. O italiano Paolo Marini divide com ele essa tarefa. Marini é egiptólogo (arqueólogo dedicado à história da civilização egípcia) e o organizador responsável pela organização de mostras itinerantes do Museu Egípcio de Turim. Em dois anos de trabalho, a dupla selecionou um grupo de itens composto de esculturas, caixões e uma múmia humana que causa furor entre os visitantes. A mulher, chamada Tararo, tem cerca de 1,50 metro de altura. Deve ter vivido por volta de 700 anos a.C., período recente para a civilização egípcia, que durou cerca de seis milênios, se considerada a pré-história, época em que a escrita não existia. Tararo foi contemporânea da 25ª dinastia, conhecida também como a dos faraós negros. “Embora não seja uma figura da realeza, a julgar pelo sarcófago, seu status social era alto. Ela levava o título de senhora da casa”, explica Marini. Tal nomeação pode significar que ela era uma esposa legítima, que provê herdeiros, ou uma mulher idosa, autônoma, capaz de manter sua própria casa. Sobre a anciã, ele faz ainda uma ressalva: “Não se sabe como foi descoberta. Contudo, é possível supor que tenha vindo da Necrópoles de Tebas, região ao leste do Rio Nilo, tida como um dos maiores complexos funerários do Egito”.



Outra questão que ronda a “mulher-múmia” é a discussão sobre a exibição de corpos humanos em museus. O debate reúne aspectos relativos à ética, à conservação e aos modos de apresentação ao público. “Nosso trabalho, nesse sentido, é tornar compreensível ao visitante as razões e o contexto em que são mostradas as múmias, com atenção também à sensibilidade dos indivíduos”, afirma Marini. A fala segue em sintonia com um trecho do Acordo de Vermillion, conjunto de seis cláusulas adotadas pelo Congresso Arqueológico Mundial (WAC, na sigla em inglês), em 1989: “O respeito pelos restos mortais será concedido a todos, independentemente de origem, raça, religião, nacionalidade, costume e tradição”. Apesar de todos os cuidados, tem sido recorrente, segundo a egiptóloga Cintia Gama, a posição mais rígida das instituições, que preferem não deixar esses seres longevos sair de seus acervos. “Pode ser a última vez que os brasileiros tenham a chance de ver uma múmia ‘estrangeira’ aqui”, alerta ela, ainda que ciente que o museu curitibano Tutankhamon tem um corpo mumificado em seu acervo.


Conhecer mais o dia a dia do povo egípcio é um ganho para o público brasileiro, o que é sublinhado pela existência de um núcleo chamado Vida Cotidiana na mostra do CCBB. “Na verdade, eles prezavam tanto pela vida que queriam perpetuá-la pela eternidade”, chama atenção o curador Pieter Tjabbes. Contudo, há quem se sinta insatisfeito com o espaço dado ao assunto. “A coleção do Museu de Turim é muito ampla, com milhares de itens sobre o tema. De novo, o que vi foi uma aposta no que é mais famoso e conhecido: tumbas, estatuetas e múmia”, argumenta Antonio Brancaglion Junior, que visitou a exposição no Rio de Janeiro e é professor do Departamento de Antropologia do Museu Nacional (instituição que tinha o maior acervo egípcio da América Latina, com 700 itens). Os números não contestam a afirmação do pesquisador, que foi também um dos curadores da mostra Egito Faraônico, Terra dos Deuses, realizada em 2001 no Masp. No CCBB, há 22 peças na seção Vida Cotidiana, ante as 118 divididas nas duas outras seções: Religião e Eternidade. Para tornar mais complexa a discussão, é preciso falar do fator raridade. Um par de sandálias, de fibra vegetal, sem data determinada, é um item importante para entender como esse povo vivia. O artefato, conservado graças ao clima seco da região, não tem equivalente na civilização grega, que não contou, infelizmente, com “sobreviventes” desse tipo.



Publicado Revista Veja São Paulo
Fotografias de Manoel de Brito